domingo, 3 de outubro de 2010

o menino que não comia frutas

A vida inteira ele fora sempre da mesma maneira:
O menino que não comia frutas.
Desde a existência primeira ele tinha na cabeça:
Jamais comeria frutas.
E não é que tinha algo de desgosto, não é que tinha algo de mimo
Era problema no suco das entranhas.
A boca, a língua e o paladar tudo parecia gostar da cartela de cores e aromas,
Da diversidade generosa da terra, da água, da fibra e do açúcar
Gostava de adivinhar as cores ao compreender os cheiros
Gostava de penetrar nas texturas, vincos e lisuras dos corpos caprichados, naturalmente trabalhados na organicidade da natureza.
Surfava nas curvas das bananas, entrava pelos poros dos morangos, perdia-se no matagal dos kiwis.
Mas ainda assim, doía-lhe o estômago, se a curiosidade lhe causasse o incômodo de provar os seus venenos.
O cheiro doce da manga madura transformava-se em pura tortura ao sistema digestório.
E eu lhe imploro, te rego e te suplico, te juro que não é mimo de um garoto paparicado.
É que a natureza o fez do avesso e se por hora eu me esqueço e brinco que ele é gente normal, na verdade eu te engano porque esse garoto puritano nada sabe de ser igual...

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