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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

sexta-feira 13





foi numa sexta-feira 13, como a de hoje, que ele soube do pouco de vida que ainda lhe restava. viu-se desconcertado com uma ruga de vinco grosso delinear o rosto e o pensamento de uma vida toda marcada pelo tempo.
sofreu como quem sofre uma perda. não era a ruga que lhe incomodava. mas o conhecimento que a ruga lhe trazia. não era o tempo e a fugacidade da vida que lhe tiraram o sono, mas a certeza de que não era a pele que, aprofundada pelas emoções, expunha o vinco de sua existência.
Ao contrário, a ruga era o primeiro sinal de que a alma iniciara seu processo de desprendimento. prá ele a pele desprendia-se da alma e o vinco aparecia. aquele gesto torto em seu rosto marcava a expressão de seu limite.
o tempo passava.

era isso, o tempo passava!

deitou-se à cama e olhou para o teto. a luz linda de um raio de sol iluminou os pensamentos e ele sorriu apaixonado. olhou para o dia 13 e sorriu. sorriu porque viu na alma desprendida uma arma para o tempo. a alma voa como passarinho. a alma voa para o seu cantinho e lá, bem longe, ela voa num canto bem escondidinho.

voa prum canto doce e eterno, prum canto lindo e livre! a alma liberta precisa do casulo do corpo pra ser forte. a ruga grossa e torta era linda em sua condição libertária. a ruga era a alma que vazava da pele rompida. a ruga era alma doce cantando sua vitória sobre o corpo amargo. a ruga era a história da alma imprimindo no corpo o seu desejo de ser livre.

a ruga era a paixão do menino pela vida. dessa vida envolta em vivências de milhões de outros corpos amargos.