terça-feira, 29 de dezembro de 2009

medo (parte I)




O coração estava disparado. As sombras enigmáticas delineadas na fresta da porta roída, o vento batendo as venezianas das janelas trincadas, o escuro da noite em pleno meio dia. Tudo era emoção que ardia no peito. Tudo era o coração que batia em desespero. As três batidas na porta que ele ouvira anunciavam mais que chegada de um forasteiro, de um estranho. Anunciavam a ausência da ausência. Ele já não era o único naquele lugar. Ele já não estava mais sozinho. Ele já não estava mais sozinho e a presença que assombrava era a mesma que sorria, escondida, do outro lado da porta. A porta roída era a ruína da existência solitária que ele, com esforço, construíra.
As três batidas na porta ruída era o começo do fim. E o desespero o consumia. E o desespero provocava espasmos na pele por vezes tocada por outra pele. E as batidas na porta ruída tremiam o osso e a junta e a pele e os cabelos. E as batidas na porta tremiam na alma. E ele já não era mais ele. Ele já não era mais o solitário andante que ficava. Ele já não era o solitário andante que perdera a inocência. Ele já não era o que ele havia construído. Ele era outra coisa e essa outra coisa tomava posse em desespero.
E o silêncio se fez. E o vento calou. E as batidas cessaram. E a porta já não tremia. Era só o escuro da noite que cismava em escurecer o meio dia. Era só o escuro da noite e a sombra na fresta da porta estática. Era só a sombra e o menino. E aquela sombra estática, escura, delineava a luz. E aquela sombra escura que revelava outra existência, e aquela sombra preta que assustava e consumia a branquidão da luz, sumiu.
E a retomada da ausência e do silêncio. E a retomada da solidão fez, por um segundo, o menino desejar o desespero anterior. A existência que viveu séculos toda espremida em cantos resguardados de medo e insegurança, a existência que passou por percalços e arreios e moléstias, e a existência que deixou de existir, tremia em temor.
É que o corpo ainda lembrava-se de outras vidas. O corpo ainda lembrava-se do tempo em que se encontrara com as sombras que haviam do outro lado da porta. E o corpo sofreu. Sofreu de espasmos e angústias e de uma dor que não tem medida. Era uma dor de peito arrancado, de peito dilacerado e, cada pedaço de coração moído, cada centímetro de carne pulsante, cada centímetro de carne independente, percorria as veias e os órgãos, amassava as entranhas e pulava no ritmo acelerado e dolorido de quem vivera algo terrível.
E o corpo lembrava-se disso. O corpo lembrava-se de cada pedaço de coração que pulsava em partes diferentes do corpo. O coração que ardia no pé, na mão. O coração que ardia na entranha da carne, na perna, na medula. O coração havia sido estraçalhado e cada migalha pulsava coma força de um coração inteiro.
E era tanta dor, tanta migalha, tanta fraqueza. Era tanto tudo que de tudo ele fez o nada. E construiu um grande nada a sua volta. E enquanto construía esse nada, esse vazio, ele juntava, pedaço por pedaço, o coração. E o nada foi se expandindo. E o nada tomava conta. E o nada era quente e aconchegante. E no nada morava o silêncio. O silêncio que lhe permitia o encontro secreto com o desconhecido, o silencio de quem vela a ausência e recorre a si mesmo como recurso de expansão da própria existência. Uma existência que se desdobra em si, que se multiplica e que se transforma. E o silencio era vital. E o nada era vital. E do nada ele fez tudo. Juntou-se todo em um todo enigmático. Juntou-se todo numa existência que era só sua. Juntou-se todo e sentou-se no sofá à espera de nada. E não havia angústia, não havia desespero. Era ele e o nada. E nada era só o que importava.
E do nada ele fez sua casa. Mobilhou-a calmamente, ergueu paredes e seguranças. Protegeu bem o que construíra com a força que só quem já viveu a desilusão sabe que tem. Não fez portas nem janelas, nem telhados. Tudo era uma expansão de parede infinita. Não havia fresta, não havia brecha. O nada tomava conta pra que não houvesse defeito. E o nada rondava para a segurança e manutenção daquele estado. Não havia tevê, não havia telefone. Havia o menino e o mobiliário primordial. A cama, o sofá, a mesa e a geladeira. E aos poucos ele foi construindo o tédio. E do tédio ele fez memória. E do tédio ele capturava aquilo que ele já não era.
Lembrou-se dele menino apaixonado pelo próprio corpo. Não a paixão de quem venera sua existência celestial ou a beleza do narciso. Mas a paixão pelos órgãos e entranhas que regiam com maestria a um pulsar involuntário de vida. Ele era apaixonado pelas reações espontâneas que o seu corpo sofria. O arrepio do vento, do toque singelo da mão no peito, o arrepio na espinha que lhe dava quando ouvia uma música linda. A lágrima que escorria e contaminava o rosto com o toque da alma. A contração das bochechas e a extensão do rasgo do lábio que revelavam os dentes e o som estridente da alma ressoando em forma de riso. E a contorção do corpo quando corpo do outro resvala suado junto ao seu. A contração do corpo quando, por acidente, o gis riscava a lousa de um jeito estranho e o grito estridente da matéria branca, contorcia as células da pele lisa do menino inocente.
A excitação que fazia brotar dos poros uma ardência na carne involuntária. E a carne se movimentava em ereção do pelo, da pele, do sangue. Tudo se enrijecia e se potencializava para o toque do outro. Tudo era o apelo do outro. Tudo era o outro e ele se esvazia nessa tensão involuntária de uma trama tecida pelo impulso. E o gozo da pele que se lasca inteira. Que ferve e que se esvai na tentativa singela de contaminar o outro com um pouco de existência sua.
E era esse misto de sensações próprias, era esse misto de sensações intrínsecas que o menino chamava de vida. A vida era toda internalizada. Acontecia aqui dentro e se refletia no mundo lá fora. E foi esse internalizar-se que, com o tempo ele construiu o nada.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

sexta-feira 13





foi numa sexta-feira 13, como a de hoje, que ele soube do pouco de vida que ainda lhe restava. viu-se desconcertado com uma ruga de vinco grosso delinear o rosto e o pensamento de uma vida toda marcada pelo tempo.
sofreu como quem sofre uma perda. não era a ruga que lhe incomodava. mas o conhecimento que a ruga lhe trazia. não era o tempo e a fugacidade da vida que lhe tiraram o sono, mas a certeza de que não era a pele que, aprofundada pelas emoções, expunha o vinco de sua existência.
Ao contrário, a ruga era o primeiro sinal de que a alma iniciara seu processo de desprendimento. prá ele a pele desprendia-se da alma e o vinco aparecia. aquele gesto torto em seu rosto marcava a expressão de seu limite.
o tempo passava.

era isso, o tempo passava!

deitou-se à cama e olhou para o teto. a luz linda de um raio de sol iluminou os pensamentos e ele sorriu apaixonado. olhou para o dia 13 e sorriu. sorriu porque viu na alma desprendida uma arma para o tempo. a alma voa como passarinho. a alma voa para o seu cantinho e lá, bem longe, ela voa num canto bem escondidinho.

voa prum canto doce e eterno, prum canto lindo e livre! a alma liberta precisa do casulo do corpo pra ser forte. a ruga grossa e torta era linda em sua condição libertária. a ruga era a alma que vazava da pele rompida. a ruga era alma doce cantando sua vitória sobre o corpo amargo. a ruga era a história da alma imprimindo no corpo o seu desejo de ser livre.

a ruga era a paixão do menino pela vida. dessa vida envolta em vivências de milhões de outros corpos amargos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

amor platônico

vivo no prazer desgostoso da solidão, na minha dicotomia boba e imprecisa de viver a realidade imaginada. nada do que eu vejo é o que é. aplico a cada coisa que me cerca um vinco de subjetividade. vincada, a realidade é de uma particularidade assustadora. você não é você. você é algo que eu sinto e esse sentimento é tão real que você deixa de ser você pra ser esse sentimento desprendido.

É esse desprendimento que eu carrego que te coloca junto a mim. selados num pacto silencioso - que escrevi sozinho em sangue, em carne e unha . tenho na memória lembranças lindas suas. lembranças de dias e dias que couberam em alguns segundos de imaginação. vivi, no desespero da irrealidade, aventuras inimagináveis ao seu lado. vivi, no desacordo entre o que é e o que poderia ser, uma vida inteira.

essa vida toda imaginada foi ontem impressa em 5m² de folha sulfite. ainda falta um tantinho pra você se desprender de mim e, como um filho, sair por aí atrás do mundo. por enquanto, ainda te observo por de trás do muro, com medo de que você vá embora e se esqueça desse acordo que você nem sabe que eu fiz.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

carta à minha mãe

Mãe, querida!

As pessoas mais bonitas que eu já conheci são aquelas cujo passado parece que se dissolveu no ar. Não sobrou nada além daquilo que se é hoje – um poço de insegurança e incertezas. As pessoas mais bonitas que já vi são assim, não vivem do passado e sonham profundamente com um futuro melhor, um futuro de realizações e prazeres.
As pessoas mais bonitas que já conheci eram todas assim, quem nem você. Pessoas cujo o motor não é a sombra do que já foi, mas a angústia do que ainda não é. Você sabe a força disso? É de brutal delicadeza!É preciso muita gentileza pra entender que o viver não é só o que “eu já vivi”, mas o que está por vir e atirar-se com toda a força da existência a esse desconhecido e nebuloso desejo de futuro.
As pessoas mais bonitas que eu já conheci mãe, eram motivadas pelo amor. Não pelo dinheiro, pelo tempo, pela beleza ou pela sabedoria. Eram pessoas todas feitas de amor. E elas eram lindas e ricas e sábias por que nada no mundo preenche mais, porque nada no mundo dá tanto vazio – porque o amor nos ausenta de nós mesmos - do que uma alma cheia de amor.
E você mãe querida, você é todo amor. Todo o amor do mundo cabe em você e cabe tanto e com tal força que há certo descontrole. Um descontrole lindo que eu admiro de perto. Eu que vim com certa racionalidade olho em você algo que às vezes falta em mim. Um amor que não da conta de caber só em você.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

quer saber?

Quer saber? O que eu falo e o que calo e ninguém quer saber? Quer saber?
Chega aí, mentir eu juro que não vou, só vim contar pra ti o que ninguém jamais contou!
- Nem pra mim?
Vem pra cá, não venha mais com essa de querer justificar a existência daquilo que a gente já sabia - já não há!
Faz assim, esconde entre os seus dedos, esconde os meus segredos que sem culpa te conto todo meu enredo.
Mas agora eu tô sem tempo, e se eu achei que era hora de começar nossa doce história, me enganei. Vou-me embora sem demora e se teus dedos guardarem bem os meus segredos, juro, volto cedo e volto só pra te procurar.

flor do por vir

Era um dia como o de hoje, segundo dia de primavera.
E como todo dia que é segundo, estava mais próximo de saber quem era
Não havia no mundo nenhuma outra flor como aquela
Era flor pequena, ainda enclausurada em forma de botão
Ninguém a via, ninguém se importava, só eu que do alto da montanha podia de longe contemplá-la
A flor era tímida e insistia em dizer não à alegria que seria o dia de seu desabroche
Mas a linda e pequena flor – tão frágil e cheia de amor – tinha mesmo era medo do deboche
Tinha medo de ser ela mesma e ser atropelada pela elegância austera do mundo
Pela vida de jogos e mentiras e trapaças, por essa vida toda cheia de graça que é fingir-se de outro qualquer
A pobrezinha não. Não nascera mentirosa. Nascera assim, sem essa graça. Era toda verdadeira e encolhia-se com medo de ser pela vida inteira, motivo de chacota.
Mas o ímpeto da natureza é selvagem e quanto mais a flor resistia em seu botão maior era o empuxo pra romper todas as margens.
Dia após dia eu observava a pequena flor do por vir. Enchia-me de esperança pela existência de uma natureza mais delicada e verdadeira. De uma natureza que entende o que os outros fingiram esquecer. Fingem que eu sou diferente de você – veja só que falta de sabedoria!
Ah, pequena flor de primavera, você nem sabe...somos todos filhos dessa coisa amorfa que é a Vida. Somos todos nômades errantes, somos todas selvagens debutantes sofrendo por um amor que ainda não temos.
Não nos amamos como deveríamos. Mas eu te amo. E te amo tanto que te vejo sem te ver. Ao quinto dia, quando seu botão já não lhe cabia e suas pétalas anunciavam sua existência, uma triste mulher elegante, toda cheia e ofegante pisou-lhe sem nem mesmo olhar pra trás. Contraí-me inteiro. Foi puro desespero e pranto e dor. Doía-me ver-te tão fugaz...
Vi seu botão semi-cerrado, do meu peito dilacerado vi todo o amor que eu tenho por ti repousar bem ali ao seu lado. Vi suas doces pétalas se ajeitarem, vi as folhas se assustarem com a falta de delicadeza do mundo. Ah, pequena flor querida, fostes corrompida antes mesmo de chegar a vida!
E foi então, num súbito momento de euforia – vai entender a mágica de viver todo um dia – que eu entendi. Eu entendi que no sulco que sutilmente lhe caia pelas arestas, havia gotas e mais gotas de uma existência honesta que contaminavam a terra gorda de mentiras.
Vi naquele sulco sua existência. Vi naquele sulco espesso e melado toda a minha esperança. Vi que não era a flor bonita que temia desabrochar que me importava. Mas a gota estranha – a gota que é entranha – e que se não fosse sua morte prematura eu jamais teria entendido que a vida está além da formosura de existir.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

hoje

Não havia Sol, não havia calor, não havia cor no céu.
Havia um triste cinza em nuvens numerosas e densas.
Era um grande véu que respingava em gotas finas e apertadas toda a intenção do inverno de permanecer intacto.
Mas a vida e sua bonita poesia encheram o véu de lágrimas e amores. Fez das flores brotar cores e preencher de um tom bonito o cinza insosso do céu. A chuva que caia semeava de alegria o chão que estava cheio de “nãos”. Gota por gota, o árido e seco solo foi salpicado de malemolência. A bruta semente que um dia caíra despertara logo pra chama da vida. Chama despertada com água – olha aí a poesia – e, enraizada, a pequena flor nascia!
Daquela pequena gota fina – um dia caída do véu do céu triste - nasceu uma flor em mim. E é assim, nesse dia cinza que eu vejo poesia e cuido com o olhar a pequena flor do dia

sábado, 19 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

verborrágico

meu caro amor querido, há tempos esquecido nessa ânsia de viver o desconhecido. logo eu que naveguei por terras sujas e lavei-me em mato seco.
ah, meu caro e querido amor, a vida é dum ardor que nem te conto. a gente anda meio tonto de tanto tentar de tudo. tentei dar murro em mim pra ver se algo desprendia. desprendeu. desprendeu aquilo que mais me valia, aquela inocência que todo dia me fazia viver a vida simples.
ah, meu querido amor, é me tão caro, quero-te tanto e tão claro que me encontro num desamparo, que é dum desassossego nesse ponto equivocado da minha ingênua existência juvenil.
ah, amor bandido juro que prefiro mil vezes ter lhe vivido do que ter me todo ressentido pela ausência de presença de qualquer vestígio de memória de uma vida qualquer.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

mediocridade

reconhecer a própria mediocridade é um dom para o qual minha existência não veio preparada. dói-me reconhecer que há certas coisas na vida em que eu sou simplesmente medíocre - pra dizer o mínimo.



abarcar minhas limitações é o que me faz reconhecidamente humano. ou seria o contrário? negar minha condição limitada seria exatamente o motor que me faria avançar no sentido de uma existência mais plena?


de qualquer forma, a existência inteira não tem sentido se não houver amor.


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domingo, 13 de setembro de 2009

querida,

é uma pena, querida,eu sei. que o encanto que eu tenho não encanta a tu também.teus olhos de mulher feita e dedicada à leveza da pureza do mundo; teus olhos todos marejados que vêem coração em tudo não vêem, contudo, meu pobre coração dilacerado pela ausência de carinho que seus olhos cedem aos meus.
tenho sede de você mas não tens sede de mim.
se é pra ser assim, que seja!
mas saiba que secretamente em meus desejos solitários teus olhos sentem os meus. nesse reconhecimento mútuo a cumplicidade que um dia vi, me toma e me engole num sonho que só eu tenho o direito de sonhar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

encontro

encontrei, por acaso, esse blog hoje:
http://caosdeinverno.blogspot.com/

ativado o pensamento, algo desprendeu-se de mim:
o silêncio é um vazio que isola. mas, ao lado de um cúmplice, é o que identifica.

"ao amor, por me salvar"

http://vimeo.com/4636202

o que nós somos

ama.caminha.zela.ama.dura.fura.cura.procura.engana.chama.escuta.apara.

do
dor
dores
somos todos

Quem me segura??




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http://www.youtube.com/watch?v=r3Jvfu6GJUI&feature=related

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

quereres










Chico: tem dias que eu fico pensando que diabos inisisto nessa profissão? Eu tô dando tudo de mim, juro que tô!

Caetano: não exagere!

e quem nunca passou por essa encruzilhada?

Quem nunca pensou a mesma coisa?... -



:]

domingo, 30 de agosto de 2009

por um fio







sinto como se a existência toda tivesse agarrada a um fio fino e frágil vulnerável à qualquer intempere!


sábado, 29 de agosto de 2009

SOL

o Sol veio com a força da vida. em meio à penumbra em que eu repousava no meu quarto escuro, o Sol, raio por raio, fez -se presente. aos poucos, os fechos de Luz que perfuraram a janela negra do meu quarto escuro foram de uma sutileza sublime que me fizeram acordar. Abri os olhos e o quarto era de uma claridade viva. a Vida parecia inteira e completa. acordar era preciso. o quarto escuro estava claro. claro como o Sol. e o Sol, que me soprou uma brisa leve, disse:

- a Vida é chama que arde, chama que arde e que motiva. chame a sua ardência de Vida e, com urgência, viva!

domingo, 23 de agosto de 2009

congelado

Era um dia como o de hoje. Um dia estático. Nada, absolutamente nada, marcava o tempo. O ar era de neblina branca que gotejara a janela em pingos precisamente iguais. Gotas redondas com gotas redondas que não formavam desenho algum. Não havia vento e parecia não haver sequer gravidade, pois as gotas que eram gotas gordas permaneciam coladas à superfície lisa e fina da janela. Olhara pra fora e não havia nada além de uma negra bola refletida no vidro fino que de tão fino era contaminado pelo branco estático da neblina branca que desenhava a paisagem sem horizonte.
Era um dia plano. O olho preto fixava-se ao único elemento de possível dinâmica: seu próprio reflexo na janela. A bola preta contemplava a bola preta com a esperança ingênua de que sua concentração estática deslocaria a própria imagem pra uma realidade muito mais fluida e móvel. Pobre olho desejante que desejava enxergar além.
Não havia pisco. Não havia lágrima. Não havia nada que não fosse a circunferência negra envolta em espessa névoa branca. Havia o contraste em branco e preto e, talvez esse contraste, motivasse a esperança de que num salto súbito o dia todo plano e estático despencaria, degrau por degrau, do ilustre pedestal em que o garoto de olhos negros havia ingenuamente se colocado.
A esperança toda por um fio. Um suspiro preso no por vir. A vida toda acontecendo em um futuro suspenso por um presente preguiçoso que se recusa a todo custo a virar passado.

questão



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Why am I so far away from myself?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Im.preciso


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Precisamente há um ano atrás, eu repousava tranquilo na dormência da incerteza. precisamente há um ano atrás, eu era todo medo. Precisamente há um ano atrás, eu era preciso.


domingo, 16 de agosto de 2009

Pensamento II

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How deep you dare to love?








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sábado, 15 de agosto de 2009

pensamento do dia

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não é que eu sinto falta de alguma coisa é a ausência que tem se feito presente...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

indicação da Lu






coisa linda de Deus!

sábado, 8 de agosto de 2009










How you get to find love, real love?

bem-vindo






há dois dias que esse filme não sai da minha cabeça. há na entrelinha uma palavra indizível é uma palavra que tem a força de uma existência inteira e por isso inominável .algo mora ali. desde que deixei a sala de cinema esse algo me acompanha era exatamente o que eu estava procurando e que ingenuamente chamei de inocência. não é inocência não. mas está próximo. não sei se devo abrigar isso em uma palavra a palavra escapa e enquadra numa parede branca esse isso que é todo colorido e mutante.

não sei o que sinto mas sei que sinto e esse sentimento cresce em mim a medida que me aproximo dele. acho que amo esse desconhecido forasteiro que acaba de chegar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

don´t worry, be happy!!!

Bobby McFerrin, o cara que canta "don´t worry, be happy" manda benzasso como professor de música, canto, neurociência e, acima de tudo, do prazer em coisas simples!

Mentiras Sinceras

É, pois é...
Difícil controlar um desejo assim, tão intenso.
Não deu. Podia culpar o álcool, o sol, o vento, a lua e o seu coelho de crateras. Mas não. É tudo culpa minha. Meus pelos pinicam minha pele quando tocam a sua. Arrepiam meus cabelos, meus sentidos, seus gemidos e eu, ah....e eu!
Naquele instante descontrolado, seu corpo todo eriçado, nossos ventres conjugados e eu... eu em teu colo, tua cintura, teu pescoço. eu objeto transitivo, transpirando, desejando, controlando o descontrole de modo que meus dedos guiavam meus sentidos. Eu era só desejo e a consciência pro escambal!

Sua pele quente, rosa pelo calor de nossos corpos, seus olhos revirados, seus gemidos sussurrantes, seus cabelos emaranhados entre meus dedos. Éramos dois inteiros gozando da vida. Repousado em teu colo, ofegante, a realidade vinha à galope. Te desejo, sim. Mas não te amo. Envolvê-lo em meus braços é uma mentira prazerosa. No dia seguinte me pego pensando até que ponto mentiras sinceras me interessam.....

simplicidade

retomando paixões







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Desesperado. Desejo me ter de volta!

domingo, 2 de agosto de 2009

Recado à minha inocência

Inocência querida, não sei bem ao certo como te pedir que voltes. Entendo que em seu processo de existência a fuga, um dia, se faz necessária. E quando vais, vais e pronto. Nunca mais voltas e, se voltas, não és mais a mesma.
Entendo seu processo linear. Começo e fim, sempre. Quero identificar sua morte em mim – porque já conheço seu começo – e tornar-me meio. Agarrar suas pontas e tornar-me ponte. Fazer de tua linha um círculo, ou, ao menos, um triângulo. Pra que o seu fim assegure sempre um começo. Um começo de uma nova existência ingênua.
Ingenuidade, querida. Viver sem ti é de uma desesperança amarga. Viver é de uma dor constante. Dói num vazio profundo, profano e esgarçado.
Volta pra mim, volta. Volta porque eu sei que sua existência alimenta o sonho e o sonho não mina a dor em si, mas dá, à dor, sentido.

sábado, 1 de agosto de 2009

quinta-feira, 30 de julho de 2009

brincadeira de criança

Aquele ainda jovem menino que sonhava com pés descalços, vestia o terno comprido do papai. Seus ombros miúdos afogados em tecidos bem cortados. Ladeando os calcanhares, os bolsos cheios de sonhos e apelos que se esparramavam como capa de rei, à sombra do garotinho magro, miúdo e de cabelos negros.
Aquele doce menino de sonhos revolucionários já sabia que em seu caminho percalços viriam. Não se via como o garoto mais desejado ou acolhido aos meios sociais. Via-se livre. Era esse seu desejo de futuro. Em meio a isso outros sonhos fugazmente apareciam. Riqueza, conquistas, viagens. Desejou a lua, a princesa Cinderela, a luta mortal contra o dragão alado que cuspia fogo pelas ventas!
O pequeno menino sonhador tinha alma de poeta e, num dia cinza, atordoado em seus pensamentos, observara um quadro em que um triste palhaço choroso, sentado à meia lua, olhava pra fora da moldura como quem pedia socorro. O menino sabia o que deveria ser feito. Fuçou na gaveta do criado mudo, achou um caderno velho de capa azul e sentou à frente da imagem.
Contaria a história do sofrido palhaço que buscou na lua consolo para as mazelas da vida. Ao cabo de sua historia, o palhaço saltaria do quadro num mortal triplo. Pousaria seus compridos sapatos coloridos no tapete do quarto, silenciaria a TV para todo o sempre e, num salto livre, planaria até a janela ao encontro da desconhecida e famigerada liberdade...
Ahhhh, liberdade...
Seria tolice a minha tentar enquadrá-la em palavras. Mais difícil ainda é experimentá-la com o coração...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

um mundo em páginas

Um mundo inteiro cabe em 596 páginas. Na verdade, cabe muito mais que isso. Cabe um pedaço de mim esquecido num passado longínquo. Não se trata de literatura erudita, sofisticada. Trata-se de um conto fabuloso de um mundo doce e imaginário. Uma certa ingenuidade inerente à fantástica infância que, durante horas, me toma pelo braço e me carrega prum lugar incerto intrínseco em minha´lma.
Busco nessas páginas muito mais do que a autora gostaria ou, talvez, me permitiria. Retomo a mim mesmo, com sede, com fúria. Quero lembrar-me que já fui ingênuo, que acredito no mundo, no amor, nas pessoas e na vida. Suguei-me todo numa descrença sem fim. Achei que ao fazer assim bloquear-me-ia do mundo nefasto e concentraria minhas energias em terras mais férteis. Enganei-me. Deposito minhas esperanças nesse quadrado de passado que folheio vorazmente.

Acho que tem dado certo...

domingo, 26 de julho de 2009

friedly fires











do caraleo!!!!!

questionário de ausências







Sigo seco, apodrecido.Penso que esqueci, pouco a pouco, minha inocência. Nada é mais nefasto que indiferença. O neutro mórbido dos moribundos. Dou de ombros ao amor. Pobre alma a minha que desaprendeu a amar. Busco a inocência perdida, o toque sincero e a flor que um dia eu plantei nalgum lugar. Lugar que minha memória insiste em esconder de mim.

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Minha existência esmaecida emudece em sua ausência.

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Se teu olhar cruzar o meu, serei eu capaz de te reconhecer?


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Should I save myself for later?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

promessa

a thing for me

liberdade

Meus olhos não mais repousam em seus sussuros. Meus olhos são livres e farejam desejos noutros cantos. Canto livre o desejo de me querer mais.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Hunter






Repouso tranquilo em meus pensamentos. é tempo de um novo tempo. aquele antigo caderninho de pequenos rabiscos, adeus!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

What ever happened




Uma certa angústia nova anuvia meus pensamentos. A incerteza de um sentimento que não brota me faz pensar. Não deveria. Eu deveria sentir e pronto. Ou, ao contrário, não sentir, simplesmente.
Mas não, minha existência se exprime na tentativa ingênua de fazer escorrer uma justificativa qualquer. Por quê?
Maldita pergunta que não cala. E eu racionalizo. Não me entendo. Sou de uma espontaneidade ariana, muitas vezes despercebida pelo tom calmo com que tenho pintado minha personagem passageira. Aqueles que me vêem desatentos não percebem que em mim mora um sangue vermelho que escorre pelos cantos enquanto tento futilmente controlá-lo. Pobre de mim que não sei me conduzir. E cá estou, agora, enlaçado pelos meus desejos.
Desejo-te, é verdade. Mas você não me emociona. Seu mundo não me parece encantador. É apenas seu, e pronto. E nele, eu, pessoa inteira e emocionada, não caibo. É triste dizer isso assim, a seco. Mas, é verdade.
Tudo estaria resolvido se outra pergunta não viesse à tona. Por quê? O que no seu mundo interessante e carinhoso, naquele seu mundinho todo pleno e aconchegante, em nossos enlaces delirantes, de intensidades múltiplas, o que no seu mundinho há de ausente?
Algo falta. Ou, algo falta em mim?
Essa angústia de uma ausência que se faz presente reverbera em meus pensamentos de modo que só penso no por vir.
I wait and tell myself "life ain't chess,"But no one comes in and yes, you're alone...

sábado, 11 de julho de 2009

sábado chuvoso

tchau preguiça!


sexta-feira, 10 de julho de 2009

possibly maybe






"As much as I definitely enjoy solitudeI wouldn't mind perhaps spending little time with you Sometimes Sometimes..."

segunda-feira, 6 de julho de 2009

pelos sentidos

pelas delicadas linhas que brotam dos seus poros,

pelo riso ardente que me contamina

pelo cheiro quente do nosso enlace

pelo pêlo que pinica e arrepia

pela vida que é um acontecimento em si e que por ela, tudo vale.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

mediocridade

revelar a mediocridade, não afim de superação ou conformismo, é uma virtude áspera. dói, machuca e não engrandece. talvez aponte apenas um norte para a existência como um todo...

sábado, 27 de junho de 2009

I rather dance with you





Ando preso, castigado pela minha estúpida obrigação de ser feliz. Aposto na honestidade quando eu sei que a mentira bem vivida pode ser muito mais prazerosa que esgarçada verdade maltrapilha. Ah, como eu desejo a liberdade libertina dos incoerentes! Desejo a lobotomia libertadora! Dá-me, já!

Só assim poderei subverter a verdade a meu favor. Prefiro dançar a conversar com você. Então venha e esqueça seus sapatos que a gente dança essa dança com a pele em chamas.

domingo, 21 de junho de 2009

cold ash smother the fire





é mais pela música do que pela imagem

hollow men




em meio ao toque tenro e quente dos seus lábios
afogo-me em pensamentos de incerteza
desbravo-te lentamente, percorrendo teu suor, teus sorrisos, teus doces gemidos que ecoam brandamente em meus pensamentos.
no calor de suas pernas aqueço aquilo que em mim havia esquecido.
mas seus doces ruídos não drenam minhas veias. seus burburinhos percorrem meus pelos e apelos e evaporam no calor do nosso enlace.
quisera-eu tê-la dentro de mim. você que me trata tão bem, que me quer tão bem.
não sei se te engano ou escondo de mim uma verdade que me assusta.
por agora, vivo na mentira prazerosa de te ter sem ser seu.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

amor introspectivo



em curso, abraço.

um curto enlaço entre você e mim.

no eu que de tão meu já não cabe mais aqui.

...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

transmition



Pegaram-me. Fui pego e aprisionado num constante pensar e pesar pela vida que acontecia lá fora. Parei. Parei com a própria vida. Consumido, esvaido, desgastado. Alimentei todo o pensamento pra que ele ganhasse força e virasse matéria. A matéria esvaida em suor, em sangue, em dedo e papel.
A anti-arte de produzir conceitos em realidades...minha pequena realidade sonhadora, apaixonada e mutante.
sinto falta de mim mesmo, dos outros, da vida.
desejo o desejo do outro. desejo o toque dos dedos, dos labios, da alma. desejo a cumplicidade instigante de você que ainda não conheci...quero você que entende meus processos, meus isolamentos, meus pensamentos. quero você que me estica o braço e me abraça e me diz solenemente o silêncio.
seu silêncio me abriga. e abrigado, retomo a mim mesmo. quero a mim. quero o eu. quero descobrir-me em teu corpo. beber-me em sua boca. quero o consumo narcisita do desejo compartilhado. dá-me a mim mesmo. agora, nesse pleonasmo do amor sofrido, amado.
amo-te por me amar. amo-me e pronto.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

tempo tempo mano velho

O tempo me pareceu ontem um grande cúmplice. No exato instante em que o sopro de vida reforçou sua passagem com a celebração de um novo tempo, "there there" passava no multi show. sim, "there there", "idioteque" e "weird fishes" compuseram meus últimos minutos de aniversário...

que seja sempre assim, nessa sincronicidade amiga!

domingo, 12 de abril de 2009

Destino

"se é que existe, que seja cumplice."

Adriana Falcão

terça-feira, 7 de abril de 2009

inferno astral

foi-se embora a serenidade alienada.
ardo irritado.
não respondo, não falo. calo-me diante desse momento eriçado.
fujo não do extremo, mas da ignorância no tratamento.
reve-lo me um grande mal-educado. não quero. não gosto. não me aceito assim.

a delicadeza no tratamento é um avanço do qual não quero abrir mão. aprender a lidar com meus confiltos internos - o que, por favor, não quer dizer ignora-los - é algo que me obrigo. mas minha incontrolável espontaneidade, meu sangue ariano, não me deixa.
explodo, com força.

ardo, queimo, estrago.faço mesmo é tudo errado...







...bendita angústia que me move!

sábado, 28 de março de 2009

Young Folks

"if I told you things I did before told you how I use to be would you go home with someone like me?"



quinta-feira, 26 de março de 2009

Arrufos - Grupo XIX de teatro

pra se pensar:
"O amor revela no outro virtudes que ele não possui"

.

"você trocaria o seu passado, todo o seu passado, por um presente em branco?"

quarta-feira, 25 de março de 2009

ativa.ação

Ando descolado dos meus instintos, dos meus sentidos. Minha primitividade está anestesiada pela sofisticada alienação do mundo. Eu não me sou mais - e corro o riso de entender que, na verdade, nunca me fui.
Opero o caminhar imerso em pensamentos desconexos. Enjaulado no pensamento de pensamento. Preciso pensar com o olhar. Sentir os pés que tocam a superfície árida da cidade. Respirar e respirar e respirar. Não pela banal sobrevivencia. Mas pela vivência.

Busco a vida plena. Inquieto desejo ativo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

just a fest

Sempre começo do meio. O meio me é muito mais do que o começo. É no meio que sinto o que há tempos havia começado. Mas eu, de existência distraída e comedida, só percebo o que já é no instante de sua morte. Apego-me, então, aos seus últimos milésimos de vida e busco toda a intensidade perdida pra tomá-la no gole só. Matá-la brutalmente antes que morra sem que eu a tenha percebido.

Esse blog é blog de morte. Mato cada fato pra que só sobre o que me motiva. A entrelinha. O "it", pra falar de Clarice.

Mas hoje eu não mato nada. Estou sem coragem. Na verdade hoje eu dou vida. Dou vida a solidão compartilhada. Estava só, completamente só. Minha existência toda compactada num pacote escondido. A minha volta, 29.999 pessoas aglomeradas. Todas iguais a mim. Com seus pacotinhos exitenciais guardados. O que valia ali não era a existência única, mas o coletivo que dividia aquele momento. Cantavamos unidos, desafinados, desajeitados; verdadeiros.

"I´ll laugh untill my head comes off!!" era o sentimento ao fim do show. Uma alegria tão foda que droga nenhuma poderia ativar. Só entende que já desprendeu sua existência por alguns momentos. Todo invólucro ausente. Apenas o imaterial que te define ali exposto. Recebendo interferências que reverberam e tocam células virgens. Arrepio, choro, explosão.

Tudo ao mesmo tempo.

- "For a minute there, I lost myself, I lost myself" era a estratégia e o hino.

A vida que confronta a própria vida. Nesses momentos de ruptura algo se desprende e caminha em direção ao infinito. Mas tal desprendimento não vem da ausência. Muito pelo contrário. Vem pelo contato. Pelo "it" que opera na alma.Um fissura que rompe com o conhecido.

Um fato novo? Não, um ato novo!
Uma nova ação. Ação de morte. Morre-se. Pra sempre.
E sempre, pruma vida nova.



karma police _





idioteque_


(o som tá meio zuado, mas vale a pena)




fake plastic trees